domingo, 23 de março de 2014

Para onde os Nossos Impostos Vão: Policia e Judiciário no estado de São Paulo

O país de mentirinha: Crime e Impunidade no Brasil de hoje


A Semana passada fiz uma visita medica e o doutor, ao ouvir que trabalho em investigação de fraude, pronunciou a frase do ano: 
"O Brasil 'e uma fraude!"

Mais tarde, refletindo sobre este comentário, cheguei a conclusão que talvez essa seja o modo melhor de definir este país: uma fraude. 

A definição de fraude que encontro no dicionario 'e:
 "Manobra ardilosa para enganar alguém e causar-lhe prejuízo" ou "Abuso de confiança"

Estas definições são apropriadas para descrever um país que tem uma habilidade única em criar simulados de instituições. 
A fraude consiste em instituições fictícias, financiadas pelos nossos impostos, que servem não para o proposito cívico declarado na constituição,  mas para dar emprego a milhões de funcionários públicos, super-pagos e totalmente inúteis. 
O Brasil tem todas as instituições que existem nos grandes países democráticos. Mas aqui elas não tem o resultado para o qual foram criadas. Elas não tem resultado algum, excepto manter uma classe de parasitas públicos.   
Alem da saúde e educação, a fraude mais relevante que os brasileiros tem que pagar - com impostos bem caros - é a segurança publica. 
Limitando-se ao rico estado de São Paulo, são 93.918 policiais militares e 28.458 policiais civis, 3.591 efetivos da policia técnica, totalizando 125.967 agentes policiais. 
Segundo a Secretaria de Segurança publica, responsável pelo efetivo policia do estado, Entre 2011 e 2012 foram gastos 23,5 Bilhões de reais com as policias do estado. 

A policia todavia é só o braço armado do estado. 
A aplicação da justiça 'e de competência do poder judiciário.  
O poder judiciário no Brasil 'e um sistema complexo de vários tribunais, estancias de apelo, leis e recurso. 'E sobretudo cabide de emprego de ricos privilegiados que conseguem entrar nas concorridas faculdades de direito. 
Limitando-se ao estado de São Paulo, A despesa bruta com pessoal do judiciário do estado foi de  R$ 7.630.215.016,15 (7 bilhões, seiscentos e trinta milhões, duzentos e quinze mil reais)  em 2013. 
Em 2012 os números eram quase os mesmos: 7 bilhões, 320 milhões de reais o total de despesas com pessoal do tribunal de justiça do estado de São Paulo. 

Mas quais são os resultados de todos estes bilhões de reais gastos com policia e judiciário? 
O objetivo destas instituições é manter a população do estado de São Paulo segura e ter a nossa integridade física e patrimonial protegida, certo?  
Os dados da Secretaria de Segurança Publica do Estado são, como sabemos, numeros de guerra. 

Ano
Homicídio
Furto
Roubo
Furto e roubo de veículos
2011
4.193
541.139
235.523
184.311
2012
4.836
545.310
237.810
195.685
2013
4.439
542.888
257.054
215.525
Fonte: Estatísticas da SSP-SP

São mais de um milhão de crimes e vitimas por ano.  
Os 125.967 policiais não consegue manter a ruas seguras, nem salvar a vida ou a propriedade da população.  
No estado de mentirinha, as milhares de pessoas que perdem a vida todo ano tem a memoria execrada pela falta de justiça. 
O Atual secretario de segurança publica  do estado, confessa que só 16,3% dos casos de homicídio foram esclarecidos no 2012. Ou seja 83,7% de todos os homicídios ficam impunidos.  
Um qualquer assassino tem 83,7% de chance de nunca ter a autoria do próprio delito descoberta. 
São estes os números que estão atras da palavra impunidade. 

Dos 16,3% de casos em que alguém vai preso, um numero ainda menor realmente vai a julgamento e sentenças condenatórias. 
A este ponto encontramos aquilo que normalmente chamamos morosidade da justiça. 
Nos tribunais de justiça do Brasil todo, incluindo São Paulo, 69,9%,  dos processos não são resolvidos dentro de um ano. 
O Brasil tem a quarta maior população carceraria do mundo, como apurado pelo Instituto Avante Brasil. Eis os dados publicados por eles: 


•Crescimento da população carcerária nos últimos 23 anos (1990-2012) – 508%. 

•Crescimento da população carcerária nos últimos 10 anos: (2003-2012) – 77%. 
•População Nacional: Crescimento de 31% no mesmo período. 
• Em 2012 a taxa de presos foi 283 por 100 mil habitantes, 
considerando a população de 193.946.886 habitantes estimada 
pelo IBGE para 2012. 

Estes dados levam a crer que um qualquer modo de justiça esta acontecendo alguém esta sendo preso.  
Infelizmente, atras destes números estão uma outra manifestação do estado que, além de fraudador, é excepcional na violações de direitos. Mais de um terço dos presos esta preso provisoriamente e, muitos, arbitrariamente.  

Em 2012, dos 513 mil, 713 presos no sistema penitenciário nacional, mais 195 mil eram presos a espera de julgamento. Entre 1990 e 2012 o numero de presos condenados cresceu 331 %, enquanto os provisórios cresceram 1104%. 
São Paulo lidera o ranking da população carceraria. Em 2012 eram 195 mil 695 presos, ou seja 37,5% de toda a população carceraria do Brasil. Cerca de 40% de todos os presos aguardam julgamento. 

Instituto Terra, Trabalho e Cidadania, Pastoral Carcerária Nacional fez um estudo profundo sobre presos e presas provisórios na cidade de São Paulo. Aqui vai as sua conclusões: 

"O uso excessivo e arbitrário da prisão provisoria, enquanto violação dos direitos humanos, embora afete milhões de pessoas a cada ano, ao ser ignorado por formadores de politicas e aplicadores da lei, gera e aprofunda a pobreza, retarda o desenvolvimento econômico, dissemina doenças e abala o estado democrático de direito. Presos provisórios podem perder seus empregos e residencias; contrair e transmitir doenças; (...) sofrer danos físicos e psicológicos que podem perdurar para alem do seu tempo de prisão."

Segundo o mesmo estudo os presos provisórios na cidade de São Paulo são na maioria jovens entre 18 e 25 anos, pardos, paulistas da capital, com um ou dois filhos. Tem-se uma alta incidência da situação de rua, baixa escolaridade e falta de documentos. O Motivo do aprisionamento geralmente é furto ou possesso de pequenas quantidades de drogas.  

O estado de mentirinha prende um negro qualquer, por qualquer motivo, joga o tal na prisão e esquece o infeliz lá. O sistema judiciário não pode ser incomodado a  julgar ou conceder liberdade provisoria. 
A facilidade da prisão para quem é negro ficou evidente no caso do ator e vendedor Vinícius Romão de Souza, de 26 anos, preso após ser falsamente acusado de assalto. Vinicius passou 16 dias na Cadeia e só foi solto por causa de uma campanha de amigos e parentes. A acusação toda foi um engano. A Vitima do assalto confundiu o ator com o verdadeiro assaltante. 
Milhares de pessoas menos sortuda ficam presas por anos a espera de um julgamento. 

As prisões arbitrarias de negros pobres são tão absurdas como a impunidade de privilegiados que podem ter um exercito de advogados. O banqueiro bandido Daniel Dantas segue em liberdade, mesmo depois de ser condenado por corrupção ativa e varias instancias do judiciário de mentirinha. Outros bandidos seguem em liberdade gozando de habeas corpus concedido pela mais alta corte do pais de mentirinha: O supremo tribunal Federal. 
Um dos ilustres criminosos do nosso tempo, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, apontado pelo Ministério Público como mandante do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), também esta em liberdade. O seu julgamento não aconteceu porque A Justiça em Itapecerica da Serra (SP), onde o processo esta instituído, não pode marcar data do julgamento a causa de dois habeas corpus pendentes no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF). A distancia de 12 anos de um dos delitos políticos mais obscuro do país, estes pedidos de habeas corpus impedem o julgamento do réu. 
A falta de justiça é a infâmia que vitimas e familiares tem que aceitar no país de juízes, promotores e desembargadores ociosos e ricos. 

No pais de mentirinha, cadeia é para negros e pobres. A justiça trabalha bem somente para manter a liberdade de ricos e privilegiados. 
Os poucos casos que realmente são julgados surpreende pelo tempo limitado em que o julgamento acontece. 
Casos famosos que levaram anos para ser instruídos, quando chegam a julgamento, mesmo com milhares de paginas processuais e testemunhas, são 'julgados' em poucos dias. Os juízes tem pressa de terminar a coisa e voltar para a rotina de ócio. Exemplo: O julgamento do Goleiro Bruno, O Julgamento do massacre do Carandiru. 

É nessa situação de impunidade que foi feita uma ampla campanha para reduzir a maioridade penal no Brasil. A culpa do todos os males do mundo estariam com menores infratores. Numa demostração espetacular de ignorância, milhões de Brasileiros pedem sentenças  mais duras para menores. 
No nosso país temos a tendencia da usar os mais fracos como o bode expiatório. Já que a sociedade e formadores de opinião não podem se incomodar a estudar os problemas do país, dar a culpa em jovens que cresceram pelas ruas, ignorados pela sociedade e sistema educacional só pode ser uma boa ideia. 
Para a mente preguiçosa de um brasileiro qualquer, analisar as questões do estado fraudador é difícil. Bem mais fácil é dar a culpa em jovens delinquentes. A covardia que esta na nossa raiz cultural causa o silencio de frente ao mais forte e violência com os mais fracos. E o estado continua a ser uma fraude.    

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Fontes: 




  • Secretaria de Segurança Publica do estado de São Paulo. Ocorrências Policiais por ano: http://www.ssp.sp.gov.br/novaestatistica/Pesquisa.aspx
  • Tribunal de Justiça de São Paulo: http://www.tjsp.jus.br/Institucional/ConhecaOTJ/PlanejamentoEstrategico/Default.aspx?f=2
  • Instituto Avante Brasil: O Sistema Penitenciário Brasileiro em 2012. https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/staticsp.atualidadesdodireito.com.br/iab/files/2014/01/LEVANTAMENTO-SISTEMA-PENITENCIA%CC%81RIO-2012.pdf
  • Instituto Terra, Trabalho e Cidadania. Pastoral Carcerária Nacional. PRESAS E PRESOS PROVISÓRIOS DA CIDADE DE SÃO PAULO: http://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2013/02/rel_tecer_justic%CC%A7a_net.pdf 
  • G1.O globo: Apenas 16,3% dos homicídios do ano passado foram solucionados em SP. http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2013/11/apenas-163-dos-homicidios-do-ano-passado-foram-solucionados-em-sp.html
  • Ator preso por engano é solto no RJ depois de passar 16 dias na cadeiahttp://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/02/ator-preso-por-engano-e-solto-no-rj-depois-de-passar-16-dias-na-cadeia.html
  • Portal de Noticias Terra: STF suspende processo contra acusado da morte de Celso Daniel. http://noticias.terra.com.br/brasil/policia/stf-suspende-processo-contra-acusado-da-morte-de-celso-daniel,a9381a489177b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
  • Centro de Pesquisas sobre o Sistema de Justiça brasileiro (CPJus) do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) http://cpjus.idp.edu.br/tribunal-acreano-ocupa-o-1o-lugar-da-regiao-norte-e-o-5o-do-brasil-em-eficiencia/
  • O estadão: Previsto para março; júri de Sombra trava.http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,previsto-para-marco-juri-de-sombra-trava,1001231,0.htm



  • sábado, 1 de março de 2014

    Ministro Joaquim Barbosa - O maluco do STF

    O Maluco justiceiro do STF

    Varias vezes me perguntaram o que eu acho do atual Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Joaquim Barbosa. 
    Sempre respondi que não o conhecia e não conhecia o seu trabalho. Me recusava a criticar uma pessoa só por estar fazendo o próprio trabalho. Durante o processo da ação Penal 470, conhecida como o julgamento do 'mensalão', eu morava no exterior e apesar de saber do desenrolar deste processo, eu não conhecia os detalhes nem as polemicas. 

    De volta ao Brasil desde abril 2013, já li e ouvi as mais disparadas e contraditórias opiniões sobre este processo. Decidir investigar a ação deste magistrado e escrever sobre algumas questões, a meu ver, relevantes.  

    É muito difícil analisar friamente o julgamento do mensalão pois vários problemas, questões políticas e institucionais, se entrelaçam e formam um emaranhado difícil de destrincar. A meu ver as questões mais relevantes que fazem este processo tão popular  são: 

    A) O comportamento do relator do processo, o ministro Joaquim Barbosa
    B) A função do STF 
    C) O desejo de justiça da população

    Sobre a função do STF, a minha opinião é que precisamos abolir o foro especial do STF. Este tipo de julgamento especial para pessoas 'especiais' não 'e compatível com democracia e direitos humanos. (1)
    O foro privilegiado para políticos violenta o principio universal e constitucional de igualdade de todos as pessoas perante a lei. 
    Julgamentos como o da ação penal 470 também violam o direito básico de todo réu a ter possibilidade de recursos contra sentenças penais: os condenados do mensalão não tem oportunidade de recurso porque já foram julgados pela mais alta corte do país.    

    O STF deveria julgar somente sobre a constitucionalidade das leis e ser ultimo grau de apelo para sentenças de tribunais comuns. 

    Dito isso, vou me concentrar na figura do Ministro. 

    1) O Joaquim Barbosa no STF 
    Esta semana pela primeira vez assistir a cenas do Julgamento dos embargos infringentes, que alteram parte das penas de alguns réus no âmbito da mencionada AP 470.  Não quero absolutamente entrar no mérito das sentenças, se justas ou injustas pois não li o processo e não sou qualificada para rever processos penais.   

    Todavia fiquei impressionada com o bate-boca entre o Ministro Joaquim Barbosa e outros ministros. As cenas eram a vezes engraçadas e as vezes ridículas. A cena mais significativa foi quando o Barbosa explicita a sua indignação com a redução das penas e faz um longo discurso sobre isso. Os outros ministros o ignoram, se ocupam com os próprios papeis e notebooks. A linguagem corporal dos outros ministros grita: Não o aguentamos mais, só queremos terminar isso e não ver mais este maluco. 

    As cenas me alertaram sobre uma suspeita que já tinha: este 'julgamento' na verdade 'e uma comedia do absurdo, o STF 'e um circo e o Joaquim Barbosa não deveria fazer parte da mais alta corte do país. 

    Fui procurar mais informações sobre o ministro. 
    O site Youtube possui uma ampla lista de videos de Joaquim Barbosa. Uma extensa lista videos postados no site mostram o Barbosa em discussões intermináveis com os colegas do STF, agressões verbais, cenas patéticas onde o ministro reivindica a aplicação de um seu conceito pessoal de justiça. 

    Todo o comportamento do Ministro 'e inapropriado em qualquer julgamento e completamente obsceno para um corte que tem o nome de 'Supremo'. Os outros Ministros do STF se opõem e chamam a atenção do Barbosa sobre a sua agressividade e o seus rompantes.  

    Por exemplo, em setembro 2012 se discute qual lei - e pena - se aplica a um acusado de corrupção:  se a lei mais antiga que previa penas menores, ou a lei mais recente que aplica penas mais rigorosas. A aplicação de uma outra lei dependeria de quando aconteceu os fatos. 
    A maioria dos ministros presentes na sessão defendiam a aplicação da lei mais antiga. O Barbosa defendia a lei mais recente. 

    É um principio de jurídico intocável que quando ha duvida sobre qual a lei se aplica, 'e dever dos juízes aplicar a lei mais favorável ao réu. 
    Isto 'e um sólido principio de direitos humanos e serve para evitar abusos jurídicos e seleção de leis para punir indevidamente o réu. 

    Inacreditavelmente o Barbosa procura fazer aquilo que o principio jurídico tenta evitar: o aumento artificial da pena, com seletividade jurídica provocada por considerações politicas: O ministro grita textualmente que se se assim não fosse o réu "não cumpriria nem 6 meses de prisão! (2)
    Ou seja o Barbosa decidiu que os acusados tinham que receber longas sentenças prisionais, não importa o que diz lei! 

    Na ocasião Barbosa também afirma que "não concorda com a integralidade do sistema de justiça do Brasil!"
    O ministro Lewandowski rebate que "estamos no Brasil...temos que aplicar a lei...para resolver isso precisa ir para o congresso e mudar a lei! (3)

    Tudo isso é inaceitável. Nenhum juiz que merece este titulo pode se arrogar o direito de punir réus acima da lei e decidir a priori que um tal réu deve sofrer  pena prisional mais ou menos longa. Isto acontece em regimes autoritários onde considerações politicas estão acima da lei. O Brasil não é a Russia e nem a China! 

    Pela maior parte do tempo o Barbosa faz o papel do Justiceiro solitário, contra tudo e todos, e agride quem esta contra ele. 

    O comportamento do Joaquim Barbosa deu lugar a varias manifestações de repudio de Juízes, promotores e advogados. 
    No 2013 a AMB, Associação de Magistrados Brasileiros divulga nota criticando O Barbosa por sua agressão contra O ministro Ricardo Lewandowski, quando este ultimo foi acusado de fazer chicanas. A AJUFE, associação de Juízes Federais, e a ANAMATRA ,associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho também assinaram a nota. 

    As varias discussões deste Ministro com os colegas, a sua atitude arrogante, petulante e justicialista, os vários protestos de colegas da profissão, tudo indica a mesma coisa: O Joaquim Barbosa não deveria estar no STF. 
    A sua presença e comportamento jogam duvidas e vilipêndio na mais alta corte do país, transformam o STF em circo e acaba com a credibilidade desta intuição. Num país amplamente carente de credibilidade institucional, a ação deste Ministro 'e um golpe na ordem democrática da republica e sabotagem da justiça.  

    2) O Joaquim Barbosa Politico 

    Vasculhando a internet sobre noticias do Barbosa, encontrei também uma sua entrevista coletiva, de Junho 2013, que na minha opinião 'e muito relevante para entender este personagem. (4)
    Em junho 2013 o Barbosa faz, não um entrevista coletiva, mas um longo monologo explicitando a sua visão da politica e instituições. 

    A primeira coisa que se nota são as contradições sobre o seu rolo. Ele começa o monologo falando como chefe da justiça, depois fala como presidente do STF mas não em nome dos colegas ministros, depois durante a entrevista ele fala a nome de si mesmo. 

    A segunda coisa bem relevante é a imensidade do seu ego ou para dizer em língua popular o cara é cheio de si. 
    As suas externações sobre questões jurídicas e institucionais são sempre acompanhadas por comentários como "as ideias que tenho são crucias, a minha opinião 'e a mais relevante, não se pode ignorar a minha opinião

    Indo alem do seu super-egocentrismo, o Barbosa é um politico sagaz e bem-informado. Um histórico da instituições perspicaz que faz uma analise brilhante da evolução institucional no Brasil, os problemas e possíveis soluções para a questão da legitimidade. Eu concordo plenamente com as suas propostas de reforma do sistema parlamentar e eleitoral. 

    Discordo das criticas ao sistema de partidos políticos.  

    O Problema com o Joaquim Barbosa politico é que a combinação de egocentrismo e rejeição partidária produz um salvador da pátria
    Joaquim Barbosa mostra uma confiança desmesurada em si mesmo e na infalibilidade das próprias ações e opiniões. A sua atitude me lembra um jovem candidato a Presidência no 1989, Fernando Collor de Melo: olhar fixo na infalibilidade do próprio destino e retorica contra 'as elites'.  

    A sanha justicialista do Barbosa ficou popular porque materializa o desejo de justiça da população. A sociedade Brasileira esta exausta de corrupção, crime, crimes e não punição; a sociedade pede punições exemplares para corruptos e o ministro Barbosa interpreta esta ânsia difusa e se coloca no papel de justiceiro de plantão.   

    Eu espero que o Joaquim Barbosa entre oficialmente na politica o mais rápido possível:  assim o STF - e Brasil- se livra deste sabotador de justiça. 

    Quem sabe o STF até poderia voltar a fazer o que deve: ser órgão supremo da justiça brasileira, defensor da constituição e de direitos fundamentais.  

    Isto também daria aos brasileiros a oportunidade de eleger este salvador da pátria. Sabemos o que aconteceu com o Collor; podemos imaginar o que aconteceria com esta nova versão de super-herói brasileiro: um novo caos econômico-politico. 

    Na nossa  democracia temos os políticos que merecemos: aqueles que recebem os nossos votos. 

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     Fontes 
    1) Sobre isso veja a entrevista do Ministro Celso de Mello no portal UOL: 
    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/27764-ministro-do-stf-defende-fim-do-foro-privilegiado.shtml

    2) http://www.youtube.com/watch?v=hj3ZhrMq7_g 
    http://www.viomundo.com.br/politica/barbosa-chama-lewandowski-de-advogado-de-valerio.html
    3) http://www.youtube.com/watch?v=hj3ZhrMq7_g
    4) http://www.youtube.com/watch?v=xpys-8ro7U8

    sábado, 22 de fevereiro de 2014

    Sonegação fiscal, Corrupção, o Estado Fraco e o Morcegão

    Operação Santiagraha


    Ontem terminei de ler o livro do Deputado Protógenes Queiroz, 'Operação Santiagraha'.
    Para não influenciar os processos ainda em curso, o livro faz recursos a pseudônimos para os principais personagens. Aqui vai alguns:

    Morcegão=O banqueiro Daniel Dantas
    Jabuti= Celso Pitta
    O Presidente= O presidente na época dos fatos, Luis Inacio Lula da Silva
    O antecessor = o velho babão FHC
    Marcão= Paulo Lacerda, na época diretor-geral da Policial Federal
    Cobra= Naji Nahas

    Eu li este livro depois de ter lido 'Operação Banqueiro' de Rubens Valente. Os dois livros juntos formam guia e mapa de uma grande organização politico-financeira-criminosa.

    Rubens Valente seguiu os acontecimentos envolvendo o banco Opportunity por mais 10 anos e a sua obra é um dossier monumental sobre poder & corrupção politico-financeiro do Brasil nos últimos 30 anos.

    Em 'Operação Santigraha' o deputado Protógenes Queiroz conta o bastidores da operação conduzida por ele, na época Delegado da Policia Federal, que investigou e apurou vários crimes financeiros, perpetrados pelo banco Opportunity.

    No 2008 o relatório final da Operação Santiagraha apresentado pelo delegado foi confirmado pelo delegado que herdou o caso depois do afastamento de Protógenes. Os crimes confirmados em investigação e escutas telefônicas são:

    - uso de espionagem e outros meios ilegais, inclusive para obtenção de informação privilegiada, utilizada para auferir lucros indevidos no mercado de ações;
    - uso de “laranjas” para operar uma complexa e bilionária cadeira societária (mais de R$ 6,5 bilhões movimentados em 2001);
    - apropriação indevida de recursos do Banco Opportunity pelos seus sócios e familiares;
    - captação criminosa de recursos de brasileiros para fundos exclusivos a estrangeiros, com o objetivo de propiciar evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro;
    - utilização de operações agropecuárias para acobertar fraudes financeiras e fiscais;
    - tráfico de influência envolvendo altas autoridades da República.(1)

    O que significa tudo isso?
    Alem da corrupção para proteger o tudo, fundamentalmente a maior parte deste crimes tem a ver com canais e métodos da sonegação fiscal: os milionários exportam ou escodem a rendas para não pagar o devidos impostos, para não pagarem obrigações financeiras com o estado, sócios, trabalhadores, mulheres, filhos, etc.
    Segundo levantamento feito pelo grupo internacional Tax Justice Network, com base em dados de 2011 do Banco Mundial, o Brasil é medalha de prata no ranking da evasão fiscal, perdendo  só para a Russia. Segundo relatório publicado em 2013, a sonegação equivale a  13,4% do Produto Interno Bruto. (2)

    A julgar pelos esforços do banqueiro Daniel Dantas em corromper o estado brasileiro, parece que uma significativa parte desta sonegação passa pelo seu banco e fundos de investimento.

    A outra grande atividade criminosa é a lavagem de dinheiro. Esta tem a ver seja com a evasão fiscal, seja com a lavagem pura e simples: transformação de fundos provenientes de atividades criminosas em 'dinheiro limpo'. Isto é necessário para fortunas obtidas ilegalmente com corrupção, jogo do bicho e tráficos ilegais.

    Aqui vai alguns trechos de Operação Santigraha que achei mais relevantes.

    Pag. 26
    "Nas fitas apreendidas ha uma serie de inusitadas conversas de Morcegão com o seu advogado americano, que o representou no litigio  com o Banco NY33. Vale a pena conhecer. (...)
    Numa das passagens ele tenta convencer seu advogado a corromper o juiz como a melhor maneira de ganhar a causa.
    - Impossível, Sr. Morcegão - recusa-se o Lawyer.
    -Então fale com um amigo dele, um parente, um conhecido, alguém que o influecie, insiste o banqueiro bandido.
    O advogado retruca:
    - Meu caro, talvez um advogado brasileiro aceitasse fazer isso, mas eu não aceito porque eu não sou advogado Brasileiro. E nem a justiça americana é a justiça brasileira, que tolera corrupção. E o senhor não insista, porque a sua insistência vai provocar a minha desistência da sua defesa."

    Pag. 44.
    A Singular ocorrência que merece atenção especial dos nossos analistas  é a conduta da esposa de Morcegão. (...)
    Ela não exerce aparentemente qualquer atividade nos negócios do grupo, mas figura como sócia-administradora de pelo menos tres empresas  (...)
    Inacreditável. Ela mantinha cerca de 1 bilhão de reais , aproximadamente, em sua conta de pessoa física, no banco X, sendo que não teria fonte de renda para tanto, onde podemos concluir a utilização desta conta para lavagens de valores em favor do grupo, uma vez que ela já 'e usada com "laranja" para abertura de empresas.

    Pag. 67.
    Um agente da ABIN {Agencia Brasileira de Inteligencia, que auxiliou nas investigações} começou a demostrar um stress fora do comum. Era o tangerina 5, de 26 anos, o mais novo da equipe. Muito inteligente. Queixava-se a toda hora com,com outro, aquilo chegava a incomodar os colegas. "Estão me perseguindo", "repetia ele, vão me matar". Pedi para todos ficarem de olho no garoto.
    Um dia,  recebo telefonema da secretaria do Marcão:
    - O Dr. Marcão esta chamando-o urgente aqui na Abin.
    Cheguei la a tempo de presenciar uma cena insólita: Tangerina 5 chorando e gritando, gritando e chorando:
    -O Brasil esta dominado pela corrupção! A estrutura do estado esta contaminada! O Brasil não tem mais jeito!
    -Ele entrou assim - contou Marcão, perplexo. - Tentei acalma-lo, mas em vão. Ele só repetia: "eu não quero morrer.vão me matar...quero abandonar tudo e ir embora".

    Pag.109.
    Morcegão faz revelações.
    Fui conversando com ele no carro, sentado ao seu lado no banco de trás, do IML a superintendência, período de viagem de 1h30 devido ao absurdo transito que pegamos. Ele revelou fatos que comprometeriam toda a republica, os três poderes, confirmou suas ligações de financiamento de campanha do partido B, inclusive com a reeleição na câmara do deputados do ex-presidente, O Antecessor, confirmou as suas ligações com as pessoas que estavam em torno d'O Presidente {...} ; disse mais uma vez que ia sair em menos de 24 horas, e ameaçou: se não saísse em menos de 24 horas ia entregar todo o esquema no papel. Eu falei:
    -Então o senhor pode começar a entregar o esquema agora mesmo, aqui na viatura.
    Ele disse:
    -Eu sou um grande gestor de fundos de políticos, investidores,  e gente importante aqui no Brasil e fora do Brasil também, mas com envolvimento politico muito grande.
     {..}
    chegando à Superintendência propus:
    -vou reduzir a termo as declarações que o senhor fez dentro do veiculo, e dependendo das informações que fornecer depois elas poderão servir para uma diminuição da pena, ou até o perdão judicial , se forem muito relevantes.
    Nisso, o advogado dr. Alencar entra em desespero , intervindo:
    - Não, não reduza a termo agora não! Eu preciso ter uma conversa seria e urgente com o meu cliente. Reservadamente.
    Mostre a ponta da mesa:
    -Pode ficar naquela ponta ali, conversando baixinho.
    Terminada a conversa, eles se aproximaram de mim. Morcegão senta-se na minha frente. Dr. Alencar diz:

    -Doutor Queiroz, se o senhor conseguiu reduzir a termo qualquer frase ou palavra dele que venha a comprometer o sistema que coordena no Brasil, eu prefiro que ele fique na cadeia. Porque ela vai morrer.
    -Quem vai decidir é ele, não o senhor. O senhor é apenas advogado.
    Abri o depoimento dele. Ele me olhou com aqueles olhos arrogantes e disse:
    -Eu resolvi agora que não vou falar nada.
    {...}

    *****
    Operação Santiagraha, de Protogenes Queiroz, foi publicado em Janeiro 2014 pela editora Universo dos Livros.


    Fontes:
    1) http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-gerais/2008/julho/a-integra-do-relatorio-da-operacao-santiagraha
    2) http://www.valor.com.br/brasil/3333552/no-mundo-brasil-so-perde-para-russia-em-sonegacao-fiscal-diz-estudo#ixzz2u4ZA8man

    domingo, 9 de fevereiro de 2014

    Historia de uma obra: Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes

    A mistura explosiva de incompetência e corrupção que impede o progresso do Brasil.


    1.       Introdução

    Segundo algumas criticas, o Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes (CFCCT), contrasta enormemente com o bairro onde se encontra. A construção grandiosa, modernista e elegante, contrasta com simplicidade das habitações populares de um bairro dormitório, e as habitações semiacabadas, típicas da população humilde. O centro foi inaugurado em dezembro de 2012.

    Este é o projeto denominado Ilê de France, Projeto nº 5972 – Construção de Centro Cultural na Cidade Tiradentes, cuja competência pertence à Secretaria Municipal de Cultura – SMC, órgão da Administração Municipal.

    O centro realiza atividades culturais a formação profissionalizante. É Situado numa região que apresenta alto índice de vulnerabilidade social, e visa contribuir com a promoção de qualidade de vida aos moradores dos arredores abrangendo uma programação para todas as idades, mas com foco privilegiado para jovens e crianças.  O objetivo principal do centro é a formação cultural e profissional.

    O CFCCT realiza fóruns com a participação de entidades, usuários e moradores da região, e constitui um espaço para debates, apresentação de críticas e sugestões, bem como para apresentação de relatório das atividades do Centro à população.

    A descrição fisica do centro cultural esta em anexo.


    2.       A historia do projeto

    Quando foi anunciado em 2006, o projeto para a construção do CFCCT previa um orçamento de R$ 8,25 milhões, financiado por franceses, pela Prefeitura de São Paulo e também pela iniciativa privada. [i]
    Prefeitura de São Paulo planejava a construção de um centro cultural na Cidade Tiradentes (zona leste), desde o 2005. O bairro teria sido escolhido porque possui uma das principais concentrações de pobreza da cidade.
    A etapa inicial das obras deveria começar em dezembro 2006. A conclusão estava prevista para ocorrer em 2008.
    O centro deveria ter custado R$ 8,25 milhões, incluindo financiamento da região Francesa Île-de-France (equivalente à área metropolitana de Paris), prefeitura e possíveis parceiros da iniciativa privada.

    Batizado pelo secretário de "CEU da Cultura", em referência aos centros educacionais unificados idealizados na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), o projeto do prédio previa área de 3.000 m2 com cinema, teatro, biblioteca e um centro de memória, de forma a catalogar informações relativas à história do bairro. A construção seria em área desocupada da Cohab, a companhia habitacional do município.

    Na época a administração não tinha todos os recursos para concluir o centro.
    O secretário Carlos Augusto Calil (Cultura) viajou à França obter que o Île-de-France financiasse metade da verba necessária. Prefeitura e a iniciativa privada iriam arcarão com o restante. Todavia os franceses aceitam bancar só uma mínima parte.

    Em 2009 o orçamento para o futuro centro já tinha duplicado, juntamente com as dimensões da construção.
    Uma comunicado da secretaria executiva de comunicação da prefeitura menciona que uma área total de mais de 7 mil metros quadrado e  investimentos de aproximadamente R$ 15 milhões.[ii] A colaboração do setor privado não era mais mencionada.

    Em outubro 2009 a revista cultural “Anima dos Brasileiros” publica que os trabalhos de construção do centro tinha iniciado no dia 19 de setembro, que previam uma área total 7 mil metros quadrados e custos de 13,3 milhões.
    Os projetos foram de autoria dos arquitetos da  Secretaria Municipal de Cultura, José Rollemberg Filho e Lara Melo de Souza. [iii]

    Passado dois anos, em julho 2011 o portal da prefeitura anunciava que o valor total atualizado da obra seria de R$ 16,6 milhões.

    Em abril 2012 A prefeitura informa que O Governo do Estado de São Paulo assinou um convênio destinando R$ 3 milhões também para a obra que ao todo custaria R$ 19.957.590,00.  [iv]

    No final de 2012, A Prefeitura finalmente entrega Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes, informando que foram investidos R$ 22 milhões nas obras, iniciadas em maio de 2009. A Prefeitura de São Paulo recebeu apoio do Governo do Estado, que aplicou R$ 3 milhões. A prefeitura informa que por meio de cooperação entre a região Ile-de-France e São Paulo, o equipamento recebeu ainda R$ 639.423.36 [v]

    Ao longo do projeto os custos duplicaram, o suporte do setor privado nunca aconteceu e a ajuda francesa caiu para metade. 

    3.       As Questões abertas

    Para verificar os reais custos do projeto fui verificar a prestação de contas do governo para o 2012. [vi]

    O relatório de Execução Orçamentária da prefeitura para o 2012, o Projeto nº 5972 – Ile de France – Construção de Centro Cultural na Cidade Tiradentes, informa que este projeto para o 2012 tinha os seguintes valores

    Orçado= 2.453.561
    Atualizado=  9.208.222
    Empenhado= 7.499.830

    Diante das alterações de preços não explicadas, pedi informação à Secretaria de Cultura sobre os gastos do projeto que justificassem este aumento de preço contínuo e diferentes orçamentos ao longo do tempo.
    A secretaria ignorou o meu pedido de informação, feito sob a lei de acesso a informação.
    Então eu reclamei com a controladoria e, no mesmo dia, recebi uma planilha com lista de custos. A planilha me informou que a obras foram executadas pela construtora
    ALMEIDA SAPATA ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA. A planilha também informava que o pagamento pela obra foi feito do seguinte modo:

    RECURSOS ÍLE DE FRANCE - UTILIZADOS - CONSTRUÇÃO CENTRO CULTURAL NA CIDADE TIRADENTES
    EXERCÍCIO
    FONTE 00 - RECURSOS MUNICIPAIS
    FONTE 03 - RECURSOS ESTADUAIS
    FONTE 05 - RECURSO ÍLE DE FRANCE
    FONTE 08 - RECURSOS FUNDURB
    2008
    0,00

    0,00






    2009
    884.674,43

    270.388,79






    2010
    5.635.312,55
    1.000.000,00
    19.462,82






    2011
    122.525,95
    2.000.000,00
    349.571,77






    2012
    6.919.757,78
    0,00
    0,00
    1.873.225,03





    TOTAL POR FONTE
    13.562.270,71
    3.000.000,00
    639.423,38
    1.873.225,03
    TOTAL GERAL UTILIZADO
    19.074.919,12


    Esta planilha apresenta valores diferentes de outros relatórios. Na verdade em 2009 o valor pago pelo Município ao projeto foi de 9.208.222, como evidenciado no balanço anual 2012 da prefeitura de São Paulo.
    O valor mencionado acima R$ 6.919.757,78 é, portanto, incorreto.

    A Planilha, todavia não respondia a minha pergunta em nada. Então renovei o meu pedido à Controladoria e à Secretaria de Cultura: Porque projeto custou assim tanto?
    Quais foram os gastos que justificaram o multiplicamento do orçamento inicial?

    Não recebi resposta a esta pergunta e fui convidada a ir ver o processo diretamente no Secretaria de Infra-estrutura e Obra, a SIURB.

    Todavia pesquisei sobre o projeto e achei as informações sobre a licitação no portal e- negóciosCidadeSP:   http://e-negocioscidadesp.prefeitura.sp.gov.br

    A obra foi contratada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e obras, a SIUB. A abertura do processo de Licitação foi feito em Setembro 2008.

    Quando o edital de licitação foi publicado o orçamento do projeto, especificado no Edital de abertura, era o seguinte:

    a.  Valor do orçamento de custos básicos:R$ 11.984.599,90 (onze milhões, novecentos e oitenta e quatro mil, quinhentos e noventa e nove reais e noventa centavos).
    b.   Valor das Despesas Indiretas: R$ 3.307.749,57 (três milhões, trezentos e sete mil, setecentos e quarenta e nove reais e cinqüenta e sete centavos).
    c.        Valor total: R$ 15.292.349,47 (quinze milhões, duzentos e noventa e dois mil, trezentos e quarenta e nove reais e quarenta e sete centavos).[vii]
    As empresas apresentaram as propostas no dia 08 de outubro 2008. Segundo o edital, O PRAZO DE EXECUÇÃO seriam 300 (trezentos) dias corridos.[viii]

    Como resultado do processo licitatório, no dia 15/10/2008 os envelopes com as propostas foram abertos e a vencedora do processo foi a construtora Almeida Sapata Engenharia e construções LTDA, pelo valor de R$13.305.320,03.  

    Em Dezembro 2008 foi publicado a homologação do contrato com a Almeida Sapata e autorizada a emissão da Nota de Empenho.

    A partir dai o contrato com a Almeida Sapata Engenharia e Construções Ltda ganhou 28 aditivos, de tempo e de custo. Alguns exemplos aqui em seguida.

    Evento
    Data de Publicação
    OUTRAS
    28/08/2010
    COMUNICADO
    03/09/2010
    EXTRATO DE ADITAMENTO
    18/09/2010
    EXTRATO DE ADITAMENTO
    14/01/2011
    EXTRATO DE ADITAMENTO
    29/04/2011
    OUTRAS
    28/05/2011
    EXTRATO DE ADITAMENTO
    21/07/2011
    EXTRATO DE ADITAMENTO
    10/09/2011
    EXTRATO DE ADITAMENTO
    14/12/2011
    OUTRAS
    17/12/2011
    Fonte: e-NegociosCidadeSP:
    http://e-negocioscidadesp.prefeitura.sp.gov.br/DetalheLicitacao.aspx?l=g1kKB63xSqM%3d

    Não encontrei nenhuma justificação factual para estes aditivos. Tudo aquilo que esta publicado simplesmente informa aditivo de custos e extensão do prazo de entrega.

    Outros pedidos de informação não foram respondidos e fui novamente convidada ir ver o projeto.
    Aceitei o convite e depois de varias ligações para localizar o paradeiro do tal processo, varias perguntas e tentativas de obstrução, consegui finalmente por a mãos no processo.

    Passei uma tarde na contabilidade da SIURB verificando os vários tomos do processo nº2008-0.052,155-9. Pedi fotocopia de centenas de paginas para poder ler tudo com calma.


    4.       A Revelação 

    A leitura do processo revelou um panorama desconcertante na projetação e realização desta obra.
    Antes de tudo preciso explicar que o projeto base deste centro, que inclui o projeto arquitetônico, a parte técnica de iluminação, hidráulica e paisagismo levou mais dois anos para ser elaborado. Esta é a razão que o edital de licitação só foi publicado em 2008: A projetação tinha começado em 2006.
    Dos 11 tomos que constituem o processo, 6 são relacionados com a projetação.

    Apesar deste longo período de projetação – e todo o papel gasto- durante a execução revelou-se que no projeto de base faltava...quase tudo!

    Como mencionado em vários relatórios anexados ao  processo, o projeto base foi feito sem considerar varias questões fundamentais, não só de uma obra publica, mas de uma obra qualquer. Aqui vai a lista dos pontos mais críticos.

    -  Fundações e estrutura: O projeto de base contemplava um estrutura inadata as características do solo. A estrutura de base foi completamente modificada durante a execução.
    - Acessibilidade: o projeto original ignorava a necessidades de acesso para pessoas com mobilidade física reduzida.
    - Drenagem e captação das águas pluviais: O projeto foi feito ignorando a existência dos níveis de água no sub-solo e a legislaça[ix] do Municipal para a captação de águas pluviais.
    -Impacto ambiental e paisagismo: o projeto base ignorou normas e procedimentos ambientais. Em fase de execução contratual a construção foi parada para obter a devida licença ambiental.
    - Iluminação: A iluminação prevista não era apropriada para o local. [x]

    ‘E inacreditável que o projeto que levou 2 anos para ser elaborado, foi feito ignorando a maior parte da legislação ambiental, as caraterísticas do terreno e da região, e as necessidade fundamentais de qualquer projeto arquitetônico!

    Estas muitas deficiências foram evocadas pela empresa vencedora da licitação para justificar os numerosos aditivos ao contratos.

    A partir da constatação desses elementos, o processo de construção do centro mergulhou num festival de aditivos, de tempo e custos, bem difícil de entender. 
    Ex. Solicitação de aditamento de prazo feito em 22/02/2010, menciona a necessidade de desenvolver o projeto básico.

    Mas aqui se delineia o segundo fato notável.
    A SIURB em momento algum nega ou discute as solicitações da Empresa Almeida Sapata. Todas as solicitações da empresa foram atendidas. Por exemplo.

    - Aditivo de tempo pedido pela AS em 09/08/2010 tem como motivação o excesso de chuvas: o aditivo pedia 210 de prorrogação. A Siurb aprova.

    - Aditivo de tempo solicitado em 04/05/2011, tem como justificativa a deficiência da rede de esgoto no bairro e a necessidade de conectar o centro a estacão de tratamento de Esgoto. Aprovado.

    Em dezembro 2009, logo depois do inicio das obras, um aditamento contratual com acréscimo de 2,41% do contrato inicial. Em maio de 2011, um outro aditamento contratual aumentou o valor contratual de 22, 58%.

    Por fim em dezembro de 2011, quando a construção estava  mais de um ano atrasada, de frente as mais solicitações de aditivos,  o setor Jurídico da SIURB faz um relatório excepcional justificando um incremento de 50% do valor contratual!

    Este relatório ‘e o mais significativo entre os papeis deste processo e foi assinado pelo advogado Glaucio Attorre Penna, que na época era Chefe da assessoria jurídica da SIURB.

    Este senhor apesar de ter um cargo publico na SIURB, se comporta como assessor Jurídico da Almeida Sapata.
    O relatório de 47 paginas ‘e uma longa justificativa de como driblar a lei que proíbe aditivos superiores a 25% da valor original. Este advogado faz recurso a todo tipo de jurisprudência, a partir do direito romano ate o direito argentino, passando pelo direito alemão, para justificar:

    - A manutenção do contrato com a Almeida Sapata, e não contratação de outra empresa
    -O aumento do valor contratual duas veze mais do que permitido por lei!

    O  maior acréscimo contratual foi solicitado à SIURB em Janeiro 2011, pelo valor de  cerca 3 milhões de reais. Este aditivo foi enviado à Secretaria de cultura (SMC) para aprovação. A assessoria Jurídica deste órgão responde informando que a SMC não dispõe do montante necessário para este aditamento e confirma que deve existir disponibilidade financeira para autorizar os acréscimos.

    O mesmo advogado Attorre Penna então, ignora o parecer da SMC e aprova a solicitação de aditivo “ visando-se o interesse publico na conclusão do mesmo[xi]

    Ou seja para justificar a falta de verbas, se recorre ao “interesse publico”.

    Fiz pesquisas sobre o sr. Glaucio Attorre Penna e descobri que ele foi exonerado do cargo em Abril de 2013, como publicado do diário oficial. Não achei mencionada em lugar algum a causa desta exoneração e por tanto fiz um pedido de informação à prefeitura.

    Qualquer que seja a razão da exoneração, eu não tenho duvidas que este advogado trabalhou não para a prefeitura, mas para a empresa contratada.

    De fato a SIURB aceitou a proposta e o contrato foi aditado para o valor de 20 milhões de reais.

    5.       O Mistério do orçamento real deste projeto.

    As investigações sobre a Construção do Centro Cultural da Cidade Tiradentes começaram em outubro de 2013. A distancia de mais de três meses ainda não temos certeza quais foram os custos reais desta obra. Todos os relatórios que temos mostram informações diferentes e contraditórias.
    Quando o centro foi inaugurado, em dezembro 2012, a prefeitura anunciou que foram investidos 22 milhões de reais na obra.
    A Secretaria de cultura, responsável pelo projeto, insiste que o projeto custou pouco mais de 19 milhões. 
    Os relatórios de gastos da prefeitura dizem que o projeto custou em tudo R$ 31.596.618,88 !

    Para esclarecer os fatos fiz vários pedidos de informação às varias secretarias sem nunca ter respostas definitivas e esclarecedoras.
    Por fim enviei uma carta ao prefeito e ao controlador solicitado averiguações sobres as somas discrepantes. No momento ainda aguardo resposta. 


    Conclusão

    A construção do CFCCT não durou 10 meses como especificado no contrato: as obras para a construção do centro duraram 39 meses, ou seja 3 anos e 2 meses a mais. 

    O custo passou de 8,25 milhões, previsto no projeto inicial, para R$ 15.292.349,47 (quinze milhões duzentos e noventa e dois mil, trezentos e quarenta e nove reais e quarenta e sete centavos), do edital de Licitação, para terminar com o custos de pelo menos R$ 22 milhões! 
    As obras do CFCCT custaram mais de 41 % acima do valor previsto no edital de licitação e pelo menos 63% acima do valor contratado com a empresa Almeida Sapata Engenharia e construções LTDA!  
    Lições a serem aprendidas:
    • A inabilidade de engenheiros e arquitetos na elaboração do projeto de base é a origem do descontrole nos gastos a na cronologia dos trabalhos. A partir do projeto errado se seguem todo uma serie abusos. 
    • `E difícil distinguir incompetência/inabilidade e corrupção.  Infelizmente esta claro que a corrupção `e consequência da incompetência geral. 
    • Um elefante branco num bairro pobre: Apesar da ‘vulnerabilidade social’ da área, a prefeitura, invés de construir um centro cultural básico e investir em outros aspectos como escolas, postos de saúde e moradia, a administração do Prefeito Kassab na hesita a torrar mais de R$21 milhões de reais nesta construção.
    • Como burlar o povo, os legisladores e financiadores internacionais: anunciando que o centro teria  dimensão e valor aceitável, e seria financiado também pela iniciativa privada. Nada disso aconteceu.
    • Como desprezar o dinheiro público e as necessidades da população: Apesar do apoio da iniciativa privada nunca ter acontecido, apesar da falta de receita, os responsáveis do projeto ignoram as dificuldades e o bom-senso: o projeto ‘e redobrado em tamanho e custos.
    • Como transferir fundos indevidamente a uma empresa privada: A Almeida Sapata Engenharia e construções LTDA não respeitou o prazo de entrega das obras como especificado no contrato. Ao invés de ser multada, esta empresa, pelo contrario, ganhou 63% acima do valor estabelecido no contrato! 
    • O sucesso no negocio da empreiteira `e devido ao apoio do setor jurídico da SIURB. 


    Tatiana Alves
    São Paulo, Fevereiro 2014.

     ------------------------------------------------------------------------------------------------------------
    DESCRIÇÃO FÍSICA do Centro Cultural da Cidade Tiradentes

    O conjunto conta com um edifício de 7.300 m² de área construída, implantado em um terreno com cerca de 30 mil m². 
    Seu prédio central está dividido em 5 pavimentos, sendo que a configuração e disposição dos espaços está assim dividida:

    SUBSOLO: áreas de depósito e almoxarifado, vestiários, refeitório, cozinha e despensa.

    TÉRREO: cinema (150 lugares), a biblioteca (acervo inicial de 25.000 exemplares), o centro de memória, as salas de administração e de reunião da comunidade, além de banheiros, copa e áreas de convivência.

    PRIMEIRO PAVIMENTO: telecentro (24 estações), 2 salas do Laboratório de Idiomas e literatura, amplo salão para exposições (330m2), bar/lanchonete  e banheiros.

    SEGUNDO PAVIMENTO: amplo jardim interno com deck (330m2) e área de convivência, banheiros e 2 salas amplas para atividades de artes plásticas.

    TERCEIRO PAVIMENTO: teatro (200 lugares) com camarins, bilheteria, sala de professores, 6 salas (de 92 m2) com pé direito alto e mezanino (26m2) destinadas aos cursos de formação, 1 sala ampla destinada ao Audiovisual (190m2), vestiários, áreas técnicas e de manutenção. [xii]
     ----------------------------------------------------------------------------------------------------------



    Fontes:


    [i] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2406200630.htm
    [ii] http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/comunicacao/noticias/?p=122384
    [iii] http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/emcartaz_29_1254411349.pdf
    [iv] http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/comunicacao/noticias/?p=106274
    [v] http://www.sinpeem.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=513#.Uqi2qXBeZQE
    [vi] http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/orcamento/orcamento_2012/orc2012_qdd_122012.pdf , página 94,
    [vii] Edital de Concorrência nº C010/EDIF/SIURB/08

    [viii] Idem

    [ix] Procecesso 2008-0.052155-9, folha 1359.
    [x] Procecesso 2008-0.052155-9, fls. 1359-160; fls 1373-75.
    [xi] Procecesso 2008-0.052155-9, fl. 1653.
    [xii] http://cfccidadetiradentes.blogspot.com/p/onde-estamos.html